Estivemos à conversa com Ricardo Carvalho, um dos arquitectos cujo atelier está presente na exposição Overlappings. Uma ideia que nasceu em Londres, a convite do RIBA – Royal Institute of British Architects e que se encontra, agora, em Lisboa. Jonathan Sergison, o Comissário da exposição, sublinha a capacidade de colaboração e de partilha de ideias que está por detrás desta exposição. Do individual ao colectivo – eis o caminho que podemos percorrer em modo «overlapping», no Museu da Electricidade.
Quem se lembra das arcas que eram utilizadas pelos nossos avós para guardar, entre outros, o enxoval? E que eram tão úteis para transportar coisas, em momentos de mudança? Overlappings apresenta-nos seis ateliers de arquitectura «religiosamente» guardados em arcas, que já viajaram de Londres para Milão, Barcelona, Loulé e agora permanecem em Lisboa. Esta é uma exposição itinerante e verdadeiramente portátil.
Seis arcas, seis ateliers, seis capítulos de um mesmo livro em que se expõe a arquitectura portuguesa do agora. Como é que se pensa uma exposição a seis? Ricardo Carvalho responde-nos, lembrando que a arquitectura é, por si, uma actividade partilhada e que exige uma equipa em torno de um projecto. «Os sete arquitectos aqui presentes usufruem de um conhecimento mútuo e de uma proximidade pessoal que facilitou este trabalho, para além da cumplicidade conceptual em torno da arquitectura». E nesta exposição encontramos um espaço de representação da arquitectura, sob seis formas diferentes. Os visitantes são, assim, convidados a ver a representação daquilo que existe algures por aí e que foi concebido pelos sete arquitectos. A ver e a reflectir, pois a arquitectura surge da reflexão permanente sobre o colectivo; é pensada e construída para o colectivo.
Aires Mateus, Bak Gordon, Bugio.João Favila, I. Lobo, Paulo David, Ricardo Carvalho + Joana Vilhena: seis ateliers portugueses que nos solicitam um momento para ver aquilo que se faz, no momento, em arquitectura. Cada arca transporta em si a ideia da arquitectura portuguesa e convoca o visitante a descobrir as diferenças que os ateliers apresentam na sua visão do mundo. A construção da exposição também exigiu, por parte dos arquitectos, um momento de «parar para pensar, sobretudo para mudar a nossa relação com o próprio objecto da criação», disse-nos Ricardo Carvalho.
Será surpreendente o facto desta exposição, de arquitectos portugueses, ter nascido em Londres? Não. Na arquitectura, como em outras áreas, os portugueses e os seus trabalhos são frequentemente valorizados lá fora, quando em Portugal não passam de desconhecidos. A arquitectura portuguesa é acarinhada no estrangeiro, diz-nos Ricardo Carvalho, pelo facto de comportar três aspectos que a tornam única: é uma arquitectura situacional (enraizada nos lugares), é low tech e manifesta uma força poética muito forte. É essa força que nos distingue, enquanto portugueses, habituados a lidar com inúmeros obsctáculos quando queremos fazer algo. Sim, podemos afirmar com alguma segurança que a arquitectura portuguesa terá o seu caminho internacional assegurado; mas o mesmo não podemos dizer do caminho em Portugal, uma vez que nos aproximamos de um estado em que a arquitectura será algo ao qual só alguns terão acesso, pelas óbvias dificuldades económicas que o país atravessa, bem como consequência da extinção do Ministério da Cultura. Exemplo desse caminho internarcional é a presença dos nossos arquitectos em exposições como Tradition is Innovation, patente de 29 de Setembro a 11 de Outubro no Living Design Gallery Ozone, em Tóquio.
Pedimos uma nota de optimismo: Ricardo Carvalho sugere que se abandone uma vivência superficial e construamos uma reflexão profunda, tendo por base a pergunta «o que é que eu posso fazer?».
Antes que as arcas se fechem e rumem a um novo destino, convidamo-los a incluir na vossa reflexão uma paragem no Museu da Electricidade, para ver o que de melhor se faz, nos dias de hoje, na arquitectura portuguesa. De escolas a hoteis, a grutas e casas, um museu e uma faculdade: encontrará de tudo um pouco, sempre em modo «overlapping».
O Museu de Electricidade, em Lisboa, acolhe a exposição de seis ateliers de arquitectura portugueses, até 11 de Dezembro. Não perca a oportunidade de presenciar uma leitura partilhada sobre a arquitectura portuguesa.
(trabalho realizado para a Rua de Baixo | Novembro de 2011)
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