sábado, 11 de fevereiro de 2012

Da irmandade à sede de poder e de ambição | Sobre AGORA, de Alejandro Amenabar, 2009


Amenabar tem tido uma carreira muito própria na realização, tendo-nos presenteado com  verdadeiras obras de culto como Thesis (1996) ou Abre los Ojos (1997 – este filme foi a base do êxito Vanilla Sky, uns anos mais tarde).  2004 é o ano  da consagração com o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, pela película Mar Adentro. Em 2009 regressa com um filme em inglês, baseado na vida de Hipácia de Alexandria.

Hipácia foi uma filósofa e astrónoma de Alexandria, de quem nos chegaram apenas as palavras dos seus discípulos e o reconhecimento da importância do seu pensamento.  Preocupava-a o porquê das coisas e as respostas que não tinha para aquilo que lhe era desconhecido. E essa inquietação do ser é muitíssimo bem representada pela actriz que lhe dá corpo e alma em Agora, a britânica Rachel Weisz. 

O filme tem a mestria de nos colocar no centro do mundo, mundo esse que tem vindo a fazer justiça às palavras de Heraclito, que terá afirmado que a guerra é a mãe de todas as coisas. E é precisamente a guerra entre pagãos, cristãos e judeus que Amenabar ilustra em Agora. É revoltante assistir à destruição da biblioteca de Alexandria (quantos e quantos ensaios e estudos e pensamentos não terão sido perdidos no saque do ano 389). 

Hipácia interrogava-se (e conduzia quem a rodeava nesse caminho interrogativo) sobre o espaço que a Terra ocupava no mundo, interrogando-se sobre a imperfeição das coisas e a perfeição do círculo. Que forma perfeita subjaz a tudo isto? Esta pergunta era partilhada com os seus discípulos, mas também com os escravos que a acompanhavam.

A filósofa foi vítima dos fanatismos que opunham os cristãos, os judeus e os pagãos; foi ainda vítima da sua condição de mulher que incomodava por ter um lugar como conselheira de Orestes, o prefeito.
Não tem a espectacularidade nem o orçamento de Avatar; não tem as super star de Sherlock Homes; Agora apresenta-nos de forma simples, lúcida, como uma faísca de ódio pode destruir uma Biblioteca, vidas humanas, pensamento, relações, emoções, vontades, perguntas e inquietudes. É um retrato fiel e cru da forma como a humanidade tem vindo a «evoluir»: quando há receio perante o  que não conhece, a resposta é a violência.  

(trabalho realizado para a Webzine Muro)

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